A arquitetura é muito mais do que projetar e construir edifícios: é a arte de criar espaços que respondam às necessidades humanas, combinando funcionalidade, durabilidade e beleza. Ao longo da história, esta disciplina evoluiu a par da sociedade, adaptando-se aos desafios de cada época. Atualmente, um desses grandes desafios é a sustentabilidade.
Neste contexto, a arquitetura sustentável já não é uma tendência, mas sim uma necessidade. Mais do que uma moda passageira, representa uma mudança profunda na forma como os projectos de construção são concebidos, planeados e executados. A sua abordagem procura um equilíbrio entre a eficiência energética, o respeito pelo ambiente, a viabilidade económica e o bem-estar social. Esta visão começou a transformar vários sectores, incluindo um dos mais críticos: a saúde.
Com o rápido crescimento das cidades e a necessidade de reforçar os serviços nas comunidades mais pequenas, os hospitais do futuro devem ir além da eficiência técnica.
A construção de infra-estruturas de saúde implica hoje uma responsabilidade ambiental incontornável. A incorporação de soluções sustentáveis não é apenas desejável, mas essencial para reduzir o impacto ambiental, preservar os recursos naturais e responder às alterações climáticas.
Por que razão é tão importante aplicar estes princípios especificamente aos hospitais? Como pode a arquitetura sustentável redefinir a conceção dos hospitais e por que razão é fundamental para o desenvolvimento de sistemas de saúde mais resilientes, humanos e amigos do planeta?
O sector da saúde: um domínio em expansão com um elevado potencial sustentável
Nos últimos anos, o sector da saúde adquiriu uma importância estratégica, impulsionado pelo envelhecimento da população, pela inovação tecnológica e pela procura crescente de cuidados médicos de qualidade. Este cenário gera não só oportunidades de desenvolvimento social, mas também de investimento responsável e sustentável.
Ao contrário de outros sectores, a saúde tem-se revelado dinâmica e resiliente, abrangendo desde a investigação e biotecnologia até à produção de medicamentos, consumíveis e dispositivos médicos. Dentro desta cadeia, as infra-estruturas hospitalares desempenham um papel crucial, pois são o espaço onde se materializam os cuidados de saúde prestados às pessoas. No entanto, o seu desenvolvimento tem muitas vezes negligenciado os princípios da sustentabilidade, quando na verdade deveria estar a liderar o caminho.
O investimento em hospitais sustentáveis não só faz sentido do ponto de vista económico e social, como também responde a uma necessidade urgente: criar espaços que cuidem tanto dos doentes como do planeta.
Bem-estar holístico: como uma boa conceção hospitalar cuida do doente e do ambiente
Um hospital não deve ser apenas eficiente em termos médicos, mas também na sua capacidade de proporcionar um ambiente saudável. A qualidade do ar, a ventilação, a iluminação natural, a acústica e a distribuição do espaço são factores que têm um impacto direto no bem-estar das pessoas que aí vivem. No entanto, um dos elementos mais críticos – e muitas vezes negligenciado – é a escolha dos materiais de construção.
Muitos materiais de construção tradicionais emitem compostos químicos voláteis que afectam a qualidade do ar interior. Embora os seus efeitos possam não ser imediatos, a exposição prolongada pode ter consequências graves, que vão desde alergias e dores de cabeça a perturbações reprodutivas e certos tipos de cancro. Estes efeitos têm também um impacto na saúde emocional, no stress e no desempenho dos profissionais de saúde.
Casos como a síndrome do edifício doente, a sensibilidade às redes Wi-Fi ou a intolerância aos campos electromagnéticos realçam a necessidade de conceber espaços verdadeiramente saudáveis. E se isto é importante em qualquer edifício, é inevitável num hospital.
Síndrome do edifício doente
Este termo descreve um conjunto de sintomas que as pessoas sentem quando passam algum tempo em determinados edifícios. Manifesta-se por desconforto como congestão nasal, rouquidão, irritação das vias respiratórias, pele seca, dores de cabeça ou fadiga. O mais surpreendente é que estes sintomas desaparecem geralmente pouco tempo depois de se abandonar o edifício afetado.
As causas estão frequentemente relacionadas com uma ventilação deficiente, a utilização de materiais de baixa qualidade ou tóxicos, a presença de bolores, a acumulação de poluentes químicos e uma climatização inadequada. Em muitos hospitais mais antigos, estes factores ainda estão presentes, comprometendo a saúde de quem lá vive.
WiFi Sensing e sensibilidade das redes sem fios
O aparecimento de tecnologias como o WiFi Sensing – uma técnica emergente que utiliza sinais Wi-Fi para detetar movimentos e outras variáveis em ambientes fechados – está a gerar novos debates sobre a exposição constante a campos electromagnéticos. Embora esta tecnologia tenha aplicações promissoras (por exemplo, na deteção de quedas ou na monitorização de doentes sem contacto), também reacendeu as preocupações sobre possíveis efeitos na saúde. Algumas pessoas referem sintomas como tonturas, dores de cabeça, insónias ou fadiga quando expostas a redes sem fios, num fenómeno conhecido como electrosensibilidade ou hipersensibilidade electromagnética.
Intolerância aos campos electromagnéticos
Embora a comunidade científica ainda esteja a investigar a sua origem, esta condição descreve uma resposta física anormal à exposição a campos electromagnéticos gerados por dispositivos como routers, antenas, telemóveis ou equipamentos médicos. Embora não seja oficialmente reconhecida como uma doença em muitos países, o número de casos relatados está a aumentar e, em ambientes hospitalares, é fundamental tê-la em conta ao planear a conceção dos espaços e a instalação de equipamentos.
Atualmente, embora exista investigação sobre materiais e saúde em recintos fechados, a informação é frequentemente fragmentada. Por conseguinte, é urgente adotar uma abordagem holística que considere a saúde humana no centro da conceção da arquitetura hospitalar.
Hospitais sustentáveis em Espanha: exemplos que marcam o caminho
Em Espanha, vários hospitais estão a liderar a mudança para uma infraestrutura de cuidados de saúde mais responsável do ponto de vista ambiental. Exemplos como o Hospital del Mar, em Barcelona, ou o Hospital 12 de Octubre, em Madrid, optaram por modelos de construção sustentáveis que procuram satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as do futuro.
Estes projectos implementaram uma série de estratégias específicas para minimizar a sua pegada ambiental, incluindo
- Redução significativa das emissões de CO₂.
- Utilização de materiais mais responsáveis do ponto de vista ambiental.
- Integração de espaços naturais, tanto no interior como no exterior, que melhoram o bem-estar dos doentes e do pessoal.
- Redução dos resíduos e gestão eficiente dos mesmos.
- Desenvolvimento de infra-estruturas energéticas eco-eficientes, com uma ênfase clara na redução do consumo de energia.
A eficiência energética tornou-se um pilar fundamental da arquitetura hospitalar sustentável. Não se trata apenas do trabalho dos gabinetes de arquitetura na conceção inteligente dos sistemas de iluminação, ar condicionado ou ventilação. O papel dos fornecedores de equipamento e tecnologia hospitalar é também crucial.
Desde a segurança eléctrica ao equipamento médico e não médico, cada componente influencia a pegada energética global do edifício. Estes factores, para além de reduzirem os custos de funcionamento a longo prazo, melhoram diretamente o conforto e as condições de saúde dos pacientes, profissionais e visitantes. Um aspeto que, felizmente, está a ganhar cada vez mais destaque na tomada de decisões no sector da saúde.